No dia 14 de novembro, foi celebrado o Dia Mundial do Diabetes. Este dia, tem como objetivo, chamar a atenção para uma doença que é, no início, silenciosa, mas que produz danos irreversíveis para a saúde quando não diagnosticada a tempo. Todo ano, no mundo inteiro, um tema específico sobre o Diabetes é enfocado. Este ano o tema foi “Diabetes: Proteja nosso Futuro”, dando ênfase à informação, educação e prevenção. Como o tema fala de futuro e como o diabetes também afeta crianças, me pareceu mais do que justificada a escolha do tema, para este post.
Sem entrar em muita “ciência”, existem dois tipos de Diabetes:
- Diabetes tipo 1 – onde, por razões que não são completamente conhecidas, o pâncreas deixa de produzir insulina. A insulina é um hormônio diretamente relacionado com o metabolismo do açúcar.
- Diabetes tipo 2- onde, apesar do pâncreas produzir a insulina, as células não respondem à sua presença. É como se as células do nosso corpo “resistissem”à ação da insulina. Por isso, também é chamado de diabetes insulino-resistente.
Em ambos os casos, a consequência é um aumento da taxa de açúcar no sangue (glicemia).
Crianças são acometidas pelo Diabetes tipo 1, principalmente entre os 4 e 6 e 10 a 14 anos de idade. Infelizmente, o diagnóstico muitas vezes só é feito em um atendimento de emergência com a criança apresentando um quadro de mal estar, prostração (caído, sem ânimo) e vômitos. Nesta situações, muitas vezes a criança já está com um quadro mais grave, chamado de cetoacidose diabética. Por esse motivo é muito importante que os pais fiquem atentos aos seguintes sintomas que podem estar relacionados com o Diabetes tipo 1:
- Sede excessiva. No verão, fica mais difícil se perceber o que seria uma sede excessiva, mas se o seu filho bebe água ou líquidos frequentemente, em razoáveia quantidades, fique atento e veja se ele apresenta um dos próximos sintmas;
- Fazer xixi toda hora. Se a criança vai ao banheiro toda hora, acorda várias vezes à noite para fazer xixi ou, se volta a fazer xixi na cama, é um sinal de alerta. O que pode confundir os pais é que, como o filho está bebendo muito líquido, é “normal” que faça muito xixi. O importante é constatar que mudou o padrão ou frequência. Uma criança que não acordava à noite e passa a acordar para fazer xixi, deve chamar a atenção dos pais;
- Emagrecimento. Se uma criança está bebendo muito líquido, fazendo muito xixi e emagrecendo sem outra causa conhecida, é fundamental levá-lo ao pediatra e comentar esses sintomas. No caso do Diabetes, é melhor pecar por excesso, do que deixar a doença evoluir, silenciosamente. Algumas crianças, na fase inicial do Diabetes, comem mais do que comiam e, mesmo assim, emagrecem.
Portanto, polidipsia (beber muito), poliúria (fazer muito xixi) e emagrecimento, são três sintomas que, juntos, justificam uma consulta médica.
O Diabetes tipo 1 tem controle, com o uso de insulina. Quando não controlado, produz efeitos muito ruins sobre o corpo: doença renal, doença nos olhos, podendo chegar à cegueira, perda de sensibilidade das extremidades, doenças das artérias, algumas dessas levando a amputações. Por outro lado, quando diagnosticado na fase inicial e o tratamento é seguido de forma rigorosas, a criança e, depois, o adulto, poderão viver uma vida sem nenhuma dessas consequências. Não é fácil conviver com o Diabetes e a família tem um papel fundamental no apoio, estímulo e suporte à criança que tenha essa doença crônica. É preciso ser carinhoso e firme, ao mesmo tempo, o que nem sempre é fácil. Relaxar e deixar a criança fazer ou comer o que quiser pode ser o passaporte para uma vida adulta de péssima qualidade. Por outro lado, o rigor que não acolhe a revolta da criança e do adolescente, só aumenta o sentimento de “injustiça” e estimula um comportamento de burlar a prescrição médica e nutricional.
Já o Diabetes tipo 2 não acomete crianças, O que se está verificando é que , cada vez mais, o diagnóstico de Diabetes tipo 2 está sendo feito mais cedo, em adolescentes. Mas, se o Diabetes tipo 2 não é uma doença da infância, sua prevenção é mais eficaz quando feita na infância.
Como prevenir o Diabetes tipo 2 já a partir da infância? Com uma alimentação saudável, não industrializada, sem açúcar refinado acrescentado à dieta do dia a dia. O açúcar refinado está nos sucos, bebidas achocolatadas, iogurtes, refrigerantes, balas, doces, biscoitos, sorvetes etc. Mas, não é só nas comidas doces que o açúcar refinado está presente. Muitos salgadinhos ou comidas industrializadas levam açúcar na sua formulação. Portanto, se os pais não se convencerem de que, ao dar a comida rápida, fácil, dentro da embalagem mais atraente que possa existir, contendo um brinde, estarão definindo um vida adulta com sobrepeso e Diabetes tipo 2 para seus filhos, não haverá prevenção possível. Muitas vezes, os pais já comem de forma menos saudável e e este modo de se alimentar passou a ser o “normal” da família. Se a família inteira não se envolver em um mudança de hábitos, o futuro dos filhos é certo e não é bom. Hoje, no Brasil, já somos 52% da população com sobrepeso. De onde vieram esses quilos a mais? Dos nossos hábitos “modernos” de comer. Precisamos voltar ao prato de comida do tempo de nossos avós!
Não existe solução mágica. Saúde, como educação, é um processo contínuo, trabalhoso, diário. Saúde como educação, exige o exemplo dos pais, mais do que um belo discurso. E, sempre, com muito carinho e brincadeira.
obs- na foto de cima, vemos um menino, com diabetes, medindo o açucar no seu sangue, com uma “caneta” específica para esse fim.
8 comentários em “DIABETES”
Bom dia, muito bom e esclarecedor , mas, que no dia a dia a luta é grande pois a praticidade dos sucos em caixinha, os hamburguês e biscoito que só gira o lacre vermelho e está pronto, e o quanto ficamos habituados a comer esses tipo de falsos alimentos, como disse temos que nos educar de novo e Doutor gostaria de fazer uma pergunta: o açúcar que a mãe que amamenta consome passa para o bebê? Será que a alimentação da mãe pode influenciar para a criança ter diabetes mais tarde? Desde já agradeço , muito obrigado sempre por todos esses esclarecimentos.
Deise,
Aparentemente, no que diz respeito à prevenção da obesidade, a alimentação da mãe durante a gravidez, pode ter um papel importante. Já para a lactação, o açúcar que a mãe consome não interfere com a composição do seu leite. Mas, uma mãe que consome açúcar, terá mais dificuldade em desenvolver hábitos alimentares saudáveis no seu filho, do que uma que consuma menos. Depois da amamentação, a alimentação deixa de ser algo individual e passa a ser familiar. Em geral, os filhos comem como seus pais. Se os pais não comem legumes, verduras e frutas, fica muito difícil convencer os filhos a fazer o mesmo. O exemplo é mais poderoso do que o discurso.
Parabéns, Roberto! Suas abordagens são sempre simples e bastante esclarecedoras. Realmente vivemos o momento da instantaneidade que atinge até nossos hábitos alimentares. Ter um olhar curioso que vai além das embalagens é desafiador. Infelizmente, estamos cercados de produtos alimentícios práticos (convenientes), extremamente saborosos e impregnados de marketings inteligentes. Acredito na educação alimentar infantil como ferramenta de transformação desta realidade cruel. Como profissional da área de saúde digo: estamos juntos nessa luta! Como mãe do Pedro digo: é sensacional ter você como pediatra! Um abraço afetuoso da nossa família.
Prezada Renata,
Como é bom ter gente inteligente e bem preparada para engrossar o coro das pessoas que se preocupam com saúde. Quanto às palavras gentis, são motivantes para que eu continue a escrever e atender do meu modo. Acho um privilégio antender ao Pedro e sua família.Pedro tem ótimos pais que prenunciam que, no seu futuro, haverá tempo para viver e sentir os pequenos prazeres do cotidianol Meu abraço, igualmente afetuoso.
Dr. penso que minha filha nesses três sintomas apresentados para o Diabetes tipo 1, infelizmente. Ela bebe muito, mais muito mesmo suco de caixinha (Del Vale), faz xixi a cada 10 segundos e as vezes menos que isso e num peso não baixo , mas magra. Fiquei de fato preocupada. O pediatra dela passou um exame de ultrassom do aparelho urinário, que deu normal e é por isso que pergunto. Como detectar o Diabetes tipo 1? Grata pelo pôster altamenente esclarecedor.
Prezada Rosana,
Converse com seu pediatra a respeito da sua dúvida. O exame inicial é medir a glicose no sangue. Se estiver normal, sua filha não tem Diabetes tipo 1.
Caro Dr. Roberto. Minha filha está indo muito ao banheiro fazer xixi , mas em pequenas quantidades. Durante a noite ela nao faz e já percebi q quando está envolvida em brincadeiras ela vai menos ao banheiro. Aparentemente está com a saúde normal. Poderia ser apenas um estado de ansiedade? Por exemplo: quando ela não consegue dormir à noite, ela fica levantando várias vezes pra fazer xixi, mas quando dorme não levanta mais. Devo mesmo assim avaliar ou espero outros sintomas?
Muito obrigada! O seu trabalho é de muito valor numa sociedade onde a medicina está tão contaminada por profissionais descomprometidos!
Parabéns!
Com admiração
Juliana
Prezada Juliana,
Obrigado por participar do blog. Quanto à sua pergunta, se deve esperar mais ou levar sua filha para uma avaliação, seria irresponsabilidade minha opinar pela internet. Poderia lhe dizer para aguardar e sua filha estar com alguma alteração, ou, poderia lhe dizer para procurar o médico e este lhe dizer que a sua filha não tem nada. Neste caso, use o seu bom senso e sensibilidade. Na dúvida, leve ao médico. Quando se trata de saúde, melhor ser cauteloso e não correr riscos.