Pense em três coisas que você deseja, para a sua vida. Muito provavelmente, ser feliz é uma das três. Pode ser que o título do post tenha influenciado a sua escolha, mas, ser feliz é algo que todo mundo deseja. Dito isso, o que a felicidade está fazendo em um post escrito por um pediatra? Percebo a enorme e natural preocupação dos pais com aspectos mensuráveis do desenvolvimento dos seus filhos. Está ganhando peso, crescendo? Está tirando notas boas na escola? Junto com essas perguntas, surgem outras, como por exemplo: o que mais posso dar para meu filho comer? existe algo que possa aumentar seu peso? como fazer a minha filha estudar mais, está sempre tão distraída? com que idade uma criança pode começar a fazer musculação? Raramente, ao menos no atendimento pediátrico, os pais falam sobre a felicidade dos filhos. Claro que isso está implícito em tudo que falam. Mas, explicitamente, como falam de alimentação, sono, computadores, escola, vacinas, agitação, timidez, é muito raro. Não me lembro de pais que tenham me perguntado: o que eu preciso fazer para meu filho ser feliz? Por esse motivo, resolvi escrever o post de hoje, com o objetivo de falarmos (e pensarmos) um pouco, sobre a felicidade dos filhos.
A conversa já fica difícil quando percebemos que não sabemos definir o que seja felicidade. Acabamos concluindo que o que é felicidade para uma pessoa, não é necessariamente para outra. Esta “descoberta” pode ser a mais importante para podermos contribuir para a felicidade de nossos filhos. Precisamos aceitar que a felicidade deles, vai ser definida por eles e não pelos pais ou quem quer que seja. Assim, o papel que nos cabe é o de criar as melhores condições para que os filhos possam fazer suas opções. Querer definir o que fará nossos filhos felizes é meio caminho andando para a infelicidade deles! Isso não significa que não iremos decidir muitas coisas por eles, por muito tempo. Não signfica que não vamos dar limites. Claro que sim. Mas, é muito diferente quando nossas escolhas e limites criam uma ambiente saudável e propício para que os filhos exerçam sua individualidade, do que quando são apenas uma expressão do nosso desejo e autoridade. E a linha que separa um modo de proceder, do outro, é muito tênue. Diria que, em algumas circunstâncias, nossas ações serão pautadas por nossos valores e autoridade. E assim é a vida, imperfeita e confusa! Não devemos nos sentir mal quando isso ocorrer. Apenas ficarmos atentos. É esse estado de alerta, de disposição íntima de se perceber impondo algo, que pode evitar que essa imposição (de um modo de ser feliz) se manifeste de forma continuada.
Uma das maneiras dos pais contribuirem para a que os filhos descubram a sua felicidade, além de respeitar a sua individualidade, é se perguntarem se seus filhos são/estão felizes? Se os pais não se perguntarem, a felicidade dos filhos que é algo que todos desejam, vai cair no terreno das coisas que acontecem naturalmente ou por acaso. Se não perguntarmos sobre peso e crescimento, como saber que estamos no bom caminho ou que é preciso algum ajuste? Se não olharmos para as notas, como saber que o aproveitamento escolar está bom? A questão, como mencionei acima, é que felicidade não vem com um número atrelado nela. Tanto isso é verdade que nunca ouviremos um pai dizendo para a mãe: Querida, o Junior melhorou muito. Agora ele já está com 73% de felicidade! Mas, só porque não é quantificável, não significa que não possamos falar a respeito. Se não falarmos, aí mesmo é que não vai acontecer.
Felicidade não se mede, mas se percebe, se sente. Em um mundo objetivo ( que o Nelson Rodrigues criticava, chamando, com razão, de objetividade burra), o valor do que é percebido e sentido, é menor do que o que é medido, quantificado. A emoção que nos caracteriza como seres humanos é desvalorizada e, ao permitirmos que isso ocorra, nos deshumanizamos. Portanto, se desejamos a felicidade de nossos filhos vamos ter que buscar na percepção, na escuta, no olhar, na emoção da interação com eles, os meios de avaliarmos e ajudarmos para que encontrem a sua felicidade.
O que os pais podem fazer é, partindo do respeito à individualidade dos filhos, introduzir a ideia ou desejo de felicidade no “cardápio de assuntos familiares”. As notas estão boas? Ótimo! Mas, além das notas boas, percebemos felicidade do filho em ir para a escola? O progresso no ballet está espetacular? Maravilha! Mas, a filha está feliz dançando? E, como saber se os filhos estão felizes? Olhando para eles com carinho e ouvindo respeitosamente o que eles têm a dizer. Ajudar os filhos a serem felizes é fortalecer a sua autoestima, permitindo que a criatividade se expresse livremente, oferecendo opções diversificadas de lazer e brincar. Ajudar os filhos a serem felizes é entender que eles não são nós, nem quem gostaríamos que fosssem. Ajudar os filhos a serem felizes não pode ser deixado para o acaso resolver. É um ato de amor.
2 comentários em “FELICIDADE”
Adorei, muito obrigado Dr. Roberto seus post me ajudam muito, abraços.
“O lar é, antes de tudo, a escola do caráter e, somente quando os responsáveis por ele se entregarem, felizes, ao sacrifício próprio, para a vitória do amor, é que a vida na Terra será realmente de paz e trabalho, crescimento e progresso, porque o homem encontrará na criança as bases justas do programa da redenção.”
Prezada Deise,
Eu é que agradeço a sua participação no blog.