Vivemos em um mundo onde a informação (e desinformação) circulam na velocidade da internet. À menor dúvida, consultamos o oráculo contemporâneo, a esfinge do Google! Nada ficará sem resposta, ainda que a qualidade das mesmas possa ser duvidosa ou até enganosa.
Sejamos honestos. Esta busca por certezas não é algo novo, não surgiu com a internet e a Wikipedia. O ser humano, desde seus primórdios, faz perguntas e cria respostas. Precisamos das respostas para aplacar a insegurança que a incerteza e dúvida gera em todos nós. Não somos como computadores onde, ao digitarmos algo em um banco de dados, é possível surgir uma mensagem que diz: não há registro para o que você pesquisou. Nós, quando não sabemos, criamos uma explicação. Criamos a melhor explicação possível, mas, não deixa de ser uma criação. Graças a estas fabulações o homem progrediu. De pergunta em pergunta, foi aprimorando o método de respondê-las. Hoje, somos capazes de rir de muitas explicações que nossos antepassados davam para os fenômenos e acontecimentos. Do que rirão de nós, os que virão no futuro?
Desde que voltei a escrever no blog, começo meus posts de uma forma que não parece ter nenhuma relação com o título! Vamos lá, tentar juntar o título com essa introdução.
Nasce um bebê. Novidade total, sem metáforas. Uma tempestade emocional nunca vivida antes e o compromisso biológico, social e afetivo de cuidar desse novo ser. Mas, se tudo é novidade, como cuidar do bebê? Em um mundo cheio de informações, basta digitar no google ” cuidados com o bebê” e surgem 830.000 referências (acabei de digitar e esse foi o número para esta pesquisa). Portanto, não será por falta de informação que os pais não saberão como cuidar do seu filho. Será mesmo?
Não vivemos em um mundo onde apenas circula informação. Vivemos em um mundo onde existe, sempre, mais de um expert, entendido, professor, guru, no assunto para o qual temos dúvidas. Como cuidar dos filhos é um destes assuntos onde centenas de grandes entendidos proliferam. São livros, grupos de discussão, cursos, enfermeiras de recém-nascidos, gurus alternativos, vizinhos, amigos, avós e pediatras, com opiniões categóricas sobre como cuidar de uma criança, da forma correta. Uma coleção de regras a serem obedecidas para garantir que nossos filhos se desenvolvam de forma saudável.
Na prática, este universo de normas produz dois efeitos. O primeiro é que confirma que nada sabemos, aumentando a insegurança normal, humana, diante do novo, inusitado. Segundo, se eu realmente nada sei, preciso muito de alguém que me diga o que devo fazer. Se alguém diz o que eu, inseguro, devo fazer, me sinto mais confortável e , se por acaso, as coisas não saírem tão bem quanto esperado, pelo menos não tenho culpa alguma. Segui o que me disseram para fazer.
Não é por outro motivo que o pediatra passou a desempenhar esse papel de detentor de um saber a respeito de tudo que diz respeito à criança. Mas, posso lhe assegurar, que não há curso de medicina que fale sobre com que idade uma criança pode ir à piscina ou como escolher entre ar condicionado e ventilador. A faculdade de medicina nos ensinou muito sobre doenças e pouco ou nada sobre saúde. Portanto, aquele conhecimento todo que achamos que o pediatra tem, não vem da sua formação médica. Em geral, respondemos de acordo com nossas crenças e valores, associado à experiência de termos visto muitas crianças. Mas, como cada uma é diferente, pertencendo a uma família diferente, tudo deve ser relativizado. Ao relativizar, a certeza desaparece e o seu efeito (falso) de tranquilidade também se vai.
Então, não tem jeito? Ser pai e mãe não tem um guia ou referencial por onde podemos nos orientar? Tem jeito e tem manual ou guia, sim! Só que este não está nos cursinhos para pais, livros, no pediatra ou na internet. Toda criança, ao nascer, traz junto o seu manual. Cabe aos pais encontrar o manual e consultá-lo. As crianças nos dão as pistas, cabe a nós segui-las. Para segui-las precisamos usar algo que todos temos (e tememos) que é a intuição, o instinto ou o bom senso. Durantes milhares de anos vivemos sem regras médicas, sem livros escritos, só com a tradição oral, passada de geração em geração. Sobrevivemos até os dias de hoje porque nossos antepassados ousaram e inovaram, seguindo seus sentimentos, experiência e inteligência, nessa ordem.
A questão é que o manual nem sempre está ali disponível. É preciso procurar. Procurar significa olhar, sentir, perceber o filho. Como não somos máquinas, o manual muda! O que valia hoje, não necessariamente vale amanhã. Para bebês pequenos, recém nascidos, isso é uma verdade absoluta. Cada dia, um manual diferente. Mas, sempre tem um manual ali, disponível para os pais. Basta olhar e confiar no que está vendo. Para crianças maiores o manual muda mais lentamente, mas, muda.
Não sigam regras. Não há regras prontas, quando o assunto é cuidar dos filhos. Criem suas próprias regras, respeitando o manual que vem com o filho e, gradativamente, apresentando-o ao que vocês pais acreditam. Sejam mais ousados e criativos, se libertando das regras feitas pelos outros. Pode ser que se sintam, em alguns momentos, inseguros. Não se assustem com isso. É um sentimento humano e normal. O lado bom é que a criação do filhos será feito pelo único manual realmente verdadeiro, o deles.
Divirtam-se!
ps- só para confirmar que não precisam de um manual “externo”, o que me dizem destas duas “instruções?
Como amamentar Como levantar o bebê
9 comentários em “MANUAL DE INSTRUÇÕES PARA CUIDAR DOS NOSSOS FILHOS.”
Olá, Dr. Roberto! Obrigada por voltar a nos presentear com seus textos! Grande abraço, Andréa ( Recife- PE)
Prezada Andrea,
Eu é que agradeço sua participação e gentileza. Me motivam a escrever mais.
Olá dr. Roberto! Tenho um bebê de 21 dias e encontrei seu blog hoje. Estou adorando! Obrigada pelas postagens!
Prezada Lucia,
Obrigado por participar do blog e pelo comentário gentil. Fico feliz quando o que escrevo possa ser útil para os outros. Se ainda não leu, sugiro que leia o post do dia 22/1/15- Manual de Instruções… Depois, não leia mais nada! Felicidades para a família.
Ola Dr. Cooper,
A muito tempo não escrevo… mas hoje por alguma “razão divina” me afastei da minha tumultuada agenda de mãe e profissional e mulher e fui procurar quem ??? Seu blog.
Por aqui a familia cresceu e com ela uma nova “bula”.
E agora ? Nossa, como é dificil ler uma nova bula já conhecendo uma outra similar, kkkkk.
Estava procurando por algo sobre o sono, como fazer um bebe dormir e como fazer um bebe dormir com uma irmã que pede compania mais do que nunca e como fazer tudo isso sozinha…seria sozinha mesmo ???? Enfim… antes de encontrar ou tentar encontrar alguma resposta para as minhas perguntas esbarrei neste seu post e resolvi parar e ler …. ja li umas 3 vezes…e como se nao bastasse parei para “responder”.
Você tem razão ao dizer que não existem regras. Achei que a regra já havia sido estabelecida com o primeiro filho … que nada ! Vamos começar tuuuuuuudo de novo, agora com um pouco mais de emoção talvez.
A verdade é que sim, gostaria muito de ler um manual que me ensinasse a fazer um bebe dormir para que eu pudesse dormir e que assim pudesse ter mais paciência e menos ansiedade.
Como sempre digo, as vezes é fácil falar e ler mas passar pela situação é bem diferente. Como seria bom um manual daqueles práticos e de fácil leitura, letras garrafais e figurinhas no meio do texto…. E como é ruim chegar a conclusão de que temos que agir é com intuição que depende de paciência, tempo e tranquilidade….coisas que são difíceis de se ter quando se esta cansado e com angustia de querer chegar aonde você um dia já chegou.
Mas vou “re-tentar” o instinto. Não posso desistir !!!
Obs.: Com o segundo filho, vale muito a pena dar uma paradinha para olhar a carinha banguela e risonha na madrugada e retribuir o sorriso, nao tem preço ! Acho que no meu novo manual este parágrafo foi incluso !!!
Bjs
Bia
Prezada Beatriz,
Que agradável surpresa revê-la por aqui. E, com uma família ampliada. Parabéns! Você agora vai experimentar, na prática, o que todo mundo diz- cada filho é um filho! Cada um com sua individualidade e peculiaridades. É o cansativo e divertido da história. Sucesso!
Bom dia!!
Tenho um bebe de cinco meses e sua vo esta dando bala colorida para ela, tipo fine, isso pode?
No aguardo
Deliene
Prezada Deliene,
Bebês não devem, em hipótese alguma receber balas! Mais grave do que o açúcar (desnecessário) é o risco de aspiração da bala e asfixia. De forma alguma permita que seu bebê receba balas.
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