Pensar em Páscoa é quase que obrigatoriamente imaginar ovos de chocolate. Junto com a ideia dos ovos, a questão de quantos serão necessários, o desejo de comprar os mais gostosos ou maiores e a realidade dos preços! A Páscoa é uma festa onde presentear (ovos, chocolate) é um hábito. Presentear em datas simbólicas, as transforma em momentos comerciais. Natal, Dia das Mães, Pais, namorados e a Páscoa, são datas que o comércio espera com grande expectativas de boas vendas. Nada contra o comércio, pelo contrário. Se o comércio vai bem, as pessoas encontram empregos, há geração de riqueza e, em tese, maiores possibilidades de progresso, para todos. Mas, não sou economista e não é sobre os aspectos comerciais da celebração da Páscoa que eu gostaria de escrever hoje.
Antes de ser uma festa para as lojas que vendem ovos de chocolate, a Páscoa é uma festa simbólica. Isto é, através desta festa, uma história, uma tradição, com seus valores, é transmitida, narrada e mantida viva, através dos séculos. Existem duas grandes religiões que celebram a Páscoa: a religião judaica e as religiões cristãs.
O judeus comemoram a sua libertação do Egito, deixando de ser escravos e saindo em busca da terra prometida. Os cristãos, comemoram a ressurreição de Cristo que, com o seu sacrifício, oferece aos que nele creem a possibilidade da vida eterna. Claro que, não sendo teólogo e querendo chegar a um assunto que diga respeito às crianças, esta é uma síntese extremamente simplista, sem nenhuma pretensão a não ser nos lembrar de que a Páscoa tem uma origem muito antiga em algum episódio histórico. Em comum, ambas as religiões celebram a vida, através da libertação e da possibilidade de realização plena. Em ambas as religiões, a tradição é recontada, todos os anos, para que seja conhecida e lembrada. Os judeus, contam a história da fuga do Egito, no Seder (jantar) de Páscoa (que ocorreu ontem) e os cristãos, lembram e comemoram a ressurreição de Cristo, nos cultos religiosos (que vão ocorrer amanhã).
Depois dessa longa introdução (para criar o clima), chego na pergunta que dá o nome a este post. Páscoa- só ovos de chocolate? E a minha sugestão de resposta é: Páscoa- bem mais do que só ovos de chocolate. Sim, ovos de chocolate, porque é uma tradição gostosa e prazerosa, mas algo além, mais duradouro. Algo para a vida toda. E o que seria isso? O afeto e carinho, produzindo efeitos imediatos e memórias duradouras.
Esse afeto pode se manifestar de diversas formas. Contar a história da família, por exemplo. De onde viemos, quem eram nossos avós ou bisavós, o que faziam. Isso dá às crianças um senso de pertencer a algo que é anterior a eles e do qual fazem parte. Mais do que fazer parte, levam adiante essa história, modificada por sua identidade e criatividade, mas, ainda assim, uma história coletiva e não só individual. A noção de pertencer, ao mesmo tempo que nos dá uma certa segurança, nos faz pensar na importância do coletivo. Pode ser, também, a história da própria Páscoa, principalmente para as pessoas que têm alguma fé religiosa. Pode ser a história do coelinho, ou de qualquer livro que seja interessante. O fato é que uma narrativa não só fascina as crianças, como as aproxima dos adultos. Contar histórias liga as pessoas, não só fisicamente, no momento da contação, mas, também, como uma transmissão oral de identificação. Contamos para nossos filhos histórias que ouvimos de nossos pais e, assim, essa mistura dá uma ótima liga para a vida.
Com relação ao simbolismo de libertação que ambas religiões celebram, poderíamos também pensar no valor da liberdade, nos tempos atuais. Desde como criamos nossos filhos para serem cidadãos que defendam os valores da democracia, respeitando diferenças de opiniões, culturas, opções e gêneros, até o que fazemos para que possam usar a educação e o conhecimento como meios de libertação. A ignorância e o obscurantismo não deixam de nos escravizar. Seja no nível individual, seja no coletivo com o acesso mais limitado às oportunidades existentes.
A Páscoa, portanto, pode ser uma excelente oportunidade para, além de presentearmos nossos filhos, estarmos com eles. Algumas culturas fazem jogos que aproximam crianças e adultos. Os judeus escondem, dentro de um guardanapo de linho, um pedaço do pão sem fermento (matza) que, ao final do Seder, as crianças procuram. Em alguns países cristãos, os adultos escondem ovos coloridos, como os da foto deste post, para que as crianças os procurem. Procurar algo escondido é muito excitante para as crianças e, curiosamente (ou felizmente), para os adultos também. Todos gritam, adultos dando dicas, mães torcendo (sempre!) e o prazer de encontrar o objeto escondido é de todos. Não é preciso se fazer uma brincadeira como esta, mas, se pode planejar um dia de Páscoa, onde se faça algo, além de um delicioso almoço, onde pais e filhos possam estar juntos, encontrando algo perdido ou esquecido que é o prazer do carinho, do contato, sem outra finalidade, meta ou objetivo. Nesse sentido, a Páscoa também liberta os adultos da “seriedade”, das obrigações de desempenho, permitindo que sensações e emoções e memórias afetivas aflorem.
Afinal de contas, a festa da Páscoa, é uma festa da vida. Não é à toa que seus símbolo é um ovo que, muito antes de qualquer religião contemporânea, já simbolizava a vida. Vamos nos lembrar que viemos todos de um ovo!
Feliz Páscoa para todos!
2 comentários em “PÁSCOA – SÓ OVOS DE CHOCOLATE?”
Feliz dia de Páscoa Dr. Roberto. A celebracao da vida com a familia e amigos reunidos em um almoço no domingo de Páscoa é o que podiamos querer de melhor. Adultos trocando experiencias, pequenos a procura dos ovinhos de chocolate e, no final, todos agradecendo por esse dia prazeiroso e abençoado.
Lindas palavras, bj.
Laura
Laura,
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