No post anterior, criei uma situação onde pedi que os pais escolhessem entre duas formas de tratamento:
1- um tratamento eficaz para o caso, totalmente inofensivo ou
2- um tratamento de eficácia não comprovada, com potenciais efeitos colaterais.
Evidentemente que todos os pais preferiram e preferem a primeira opção. No entanto, quando a mesma questão é apresentada, apenas explicitando que o tratamento 1 é o exercício da paciência, com cuidados não medicamentosos e o tratamento 2 seria a administração de um xarope ou algumas gotas, as opiniões se dividem ou, pelo menos, não são mais unânimes. O que aconteceu entre uma e outra situação? De forma muito simplificada, vou tentar pensar em voz alta, pedindo a vocês que critiquem o meu pensamento.
- para o ser humano, tomar uma atitude, fazer algo, intervir de alguma forma, possui, intrinsicamente, um valor positivo. As palavras ação, decisão e iniciativa são carregadas de “positividade”. Podemos buscar explicações na cultura, psiquê humana ou neurobiologia. Pouco importam as explicações, o fato é que o ser humano, por natureza, prefere a ação à inação. Ainda que, quando solicitado a usar a razão, seja capaz de perceber os enormes riscos que uma ação possa possa ter, se for mal avaliada, impulsiva ou inconsequente, o que não é raro. Mesmo com esse conhecimento lógico, do ponto de vista simbólico, preferimos agir. E, no exemplo que eu dei, uma medicação é sinônimo de agir, enquanto o cuidar sem remédios, não é percebido como tal.
- o tempo, ou melhor, a aceleração do tempo, passou a ser parte do nosso cotidiano. A rapidez é percebida como progresso ou eficiência e nossas exigências se tornam cada vez mais impacientes com relação a uma eventual espera. Apesar do dia continuar a ter 24h, uma gravidez durar 9 meses, os ciclos da terra se manterem razoavelmente estáveis, nos tornamos seres impacientes. O aprendizado é superficial porque é o que se consegue sendo veloz. Sentar, ler, estudar, aprofundar conhecimento, é coisa do passado. Comer, muitas vezes é percebido como “perda de tempo”. Entram em cena os fast foods, sanduiches, e uma convicção de eficiência, de “ganho de tempo”. Pouco importa que se perca a saúde e o prazer. Rápido é valorizado como uma qualidade absoluta. Nesse cenário, o remédio aparece como uma ilusão ou desejo de velocidade. Claro que, se pudéssemos abreviar todas as situações de adoecimento, seria muito melhor. No entanto, não detemos, ainda, esse conhecimento. Mas, o desejo de velocidade, transforma o remédio no agente que vai nos dar isso (imaginamos nós!).
- independentemente da velocidade, o ser humano tem um viés de acreditar em poderes. Desde nossos primórdios, até hoje, somos povoados por mitos, crendices, superstições e pensamentos mágicos. Na saúde, substituímos as poções da alquimia pela farmacologia. Esta, vem envolta numa capa de ciência (na verdade pseudo-ciência) que lhe confere uma modernidade (falsa).
- a transformação de tudo em bens de consumo. Saúde passou a ser mais um ítem de gôndola de supermercado, como a estética. Basta esticar a mão e comprar algo que terei o resultado esperado. A lógica do consumo não se aplica à saúde, mas somos levados a crer que sim. Não fosse verdade, as vendas de medicamentos (vejam quantas farmácias existem), teria que ser muito menor. Não somos uma população tão doente quanto o nosso consumo de remédios.
- a medicina de má qualidade ou praticada em condições adversas. Hoje, existem 180 faculdades de medicina no Brasil, formando médicos de baixa qualificação profissional. Mesmo os médicos de boa qualificação, se tiverem que atender um número muito grande de pacientes, acabarão pedindo mais exames complementares e prescrevendo mais remédios do que o necessário. Como, por conta dos itens anteriores, o paciente não acha isso necessariamente ruim, cria-se um ciclo perverso onde medicar é confundido com o ato médico. Sair de uma consulta sem uma receita é quase uma ofensa!
Vejam que temos muitos motivos para optarmos por um remédio. Mas, o que eu estou sugerindo é que devemos ser mais críticos, aprofundando nosso conhecimento, para o nosso benefício e de nossos filhos. Saúde é algo que exige, muitas vezes, paciência. Respeitar o organismo e dar a ele as condições de se recuperar. Isso pode ser o melhor remédio. Paciência!
Gostaria muito de ouvir suas críticas e pensamentos.
2 comentários em “QUANDO A PACIÊNCIA É O MELHOR REMÉDIO (CONCLUSÃO)”
adorei suas palavras diz tudo foi um conselho para mi
Prezada Patricia,
Obrigado por acessar o blog e usar seu tempo para fazer esse comentário gentil.