Transcrevo, um diálogo mantido no whatsapp, com a mãe de um menino de 1 ano e 10 meses, que me motivou a escrever este post:
– Ele entrou na escolinha, será que tem exaustão misturada tb?
– Não só exaustão, como adaptação e emoções confusas.
– Quem está sofrendo mais com a adaptação é o pai. Hoje vasculhei seu blog sobre alguma coisa que falasse da idade para se colocar a criança no colégio mas não achei. Rsrs. Eu acho importante ele socializar. O pai acha que eu estou seguindo o hype das mães.
– Francamente, nessa idade, a socialização é mínima.
– Tô doida então?Rs. Devia esperar mais? Fica a dica para um post no blog!
– Vou pensar. Boa sugestão.
– Espero que pense no blog, não se eu estou doida. Rs
– Não está!
– Obrigada! Rs.
Afinal de contas, com que idade uma criança deveria ir para a creche ou escola? Como quase todas as perguntas que eu faço aqui no blog, esta também não tem uma resposta única, certa. A pergunta a se fazer, seria: qual a motivação que os pais têm para colocar os filhos na creche ou escola? Abaixo, algumas respostas que imagino possíveis:
– Pais que trabalham. Neste caso, a ida para a creche ou escola será determinada pela necessidade dos pais e não da criança. Se a mãe precisa voltar ao trabalho após o término da licença maternidade, o que ocorre com a maioria das mães, alguém deverá cuidar do bebê de 4 ou 5 meses de idade. Ou um familiar adulto (avó, tia, madrinha) pode cuidar, ou alguém de muita confiança pode ser contratada para ficar cuidando do bebê ou os pais irão colocar o filho em uma creche. O motivo, neste caso, é uma necessidade dos pais se ausentarem de casa e decidirem qual a melhor alternativa possível, para esta família, resolver a questão de quem vai cuidar do bebê.
– Pais que precisam de parte do dia livre. Nem todos os pais têm um emprego com carteira assinada e compromisso de horário. No entanto, muitos têm atividades como autônomos e precisam de parte do dia livre para poderem retomar suas atividades. Neste caso, nem sempre isso ocorre quando o bebê tem 4 ou 5 meses. Alguns pais conseguem se organizar para retomar suas atividades um pouco mais tarde, quando o bebê já está um pouco maior. Dentro desta categoria eu também incluiria pais que se sentem cansados da dedicação total e absoluta que um bebê exige e precisam de um tempo para si, sem que seja, necessariamente, um trabalho produtivo. Lazer ou ter seus interesses é necessário e saudável. Neste grupo de pais, a questão da necessidade é parecida com a dos que retornam ao trabalho com patrão que cobra o término da licença e horários. Quem precisa que o bebê seja cuidado são os pais e as opções serão as mesmas descritas acima: familiares, alguém contratado ou uma creche.
– Pais que leram, ouviram falar ou acreditam que o quanto antes a criança interage com outras, melhor para o seu desenvolvimento. Sem dúvida, a interação com outras crianças (e adultos) é benéfica. No entanto, o “quanto antes”pode ser questionado. Bebês seguem uma certa sequência de desenvolvimento motor e emocional. Isso é visível para todos nós. A diferença entre um recém-nascido, um bebê de 6 meses e uma criança de um ano e meio é gritante (no caso, o gritante pode ser a única coisa constante em todas as idades!). Portanto, em cada etapa do desenvolvimento da criança, ela se beneficia de determinados estímulos. Ninguém pensaria em dar um lego para um recém-nascido montar, por exemplo. Mas, quando a criança começa a crescer, estas decisões de que estímulos devemos dar fica menos clara. Mais do que isso, vivemos em um sociedade onde há um predomínio do fazer, do resultado, do objetivo alcançado. A cultura gerencial, ótima para empresas, invadiu nossas vidas privadas, quer nos demos conta, gostemos ou não. Assim, é fácil pensarmos que a ideia de socializar o quanto antes o filho vai ser bom para ele. No entanto, o fato é que crianças só irão se beneficiar de uma socialização quando estiverem prontas para isso. Em geral, isso ocorre ao redor dos dois anos. Cada criança é diferente e existem as que gostam da companhia de outros, um pouco antes dos 2 anos e outras que só vão achar graça em brincar com um amiguinho ou amiguinha, depois dos 2 anos. O normal não é uma idade precisa ou, crianças não são médias estatísticas. São indivíduos únicos. A “normalidade” é uma faixa e não um ponto.
Crianças de um ano, um ano e meio, gostam de brincar sozinhas. A presença de outras crianças, em geral, não faz a menor diferença para elas. Podem ter a curiosidade despertada para o outro bebê, como teriam para um brinquedo ou objeto. Ainda não percebem no bebê um semelhante com quem poderão interagir. Logo, pouca ou nenhuma socialização irá ocorrer, nesta idade. À medida que a criança se aproxima de 2 anos, a ideia de brincar ao lado de outra, eventualmente com alguma troca, começa a se fazer presente. É o início da socialização que vai aumentando, até que brincar em grupo se torna algo muito divertido.
Portanto, os pais podem colocar seus filhos na creche ou escola, em qualquer idade. Apenas, não utilizem o pretexto da socialização, antes da hora! O que não significa que a criança não se divirta e tenha prazer em frequentar uma creche ou escola que a acolha com carinho e tenha atrativos para seu entretenimento, como brinquedos, cores, e profissionais que leiam histórias e sejam amorosos.
Não vamos nos esquecer que, há muito pouco tempo, essa questão de com que idade devo colocar meu filho na creche ou escola, nem existia. Era o tempo em que existia a pracinha, o encontro das mães e das crianças, ao ar livre, sem projeto psico-pedagógico ou estimulação precoce. Crianças no chão, mães conversando entre si, interrompidas por um puxão de cabelo aqui, uma disputa de brinquedos ali e um choro ocasional. Muitas dessas crianças que brincaram na praça ontem, hoje, podem estar lendo este blog. São adultos que, em geral, convivem bem com os outros, trabalham, estabelecem vínculos afetivos, se relacionam com amigos e uns dias estão mais bem humorados e outros nem tanto.
Claro que vivemos em outros tempos. A começar pelo número de mulheres que trabalha e participa de forma significativa do orçamento familiar. A questão da segurança também se modificou. Hoje, todos temos receios que há alguns anos não eram tão marcantes. As cidades também se modificaram com mais prédios e condomínios substituindo as casas. As famílias se tornaram menores e mais isoladas (nos apartamentos). Não podemos ter uma visão romântica de que a pracinha vai voltar a ser o que era. Mas, podemos afirmar que a socialização acontece sem que se tenha que fazer nada muito especial. A creche ou escola passaram a representar um pouco do que a pracinha representava. Se divertir é o melhor caminho para a socialização e a creche pode ser um lugar muito divertido. Só não sei responder com que idade uma criança deva ser levada para a creche ou escola! Como viram, vai depender de muito fatores. Até, se existe uma pracinha com crianças, perto de casa!
11 comentários em “COM QUE IDADE IR PARA A CRECHE OU ESCOLA?”
Sinceramente foi o único artigo sobre o tema que eu realmente gostei: claro, direto, honesto, sem fórmulas mágicas. Me enquadro no segundo time (preciso de tempo para mim, para voltar ao mercado de trabalho) e coloquei meu bebê de 18 meses essa semana na escolinha. Já percebi que ele não liga para os demais alunos, mas adora as atividades e as brincadeiras. Muito obrigada por essa publicação, confirmou o que eu sentia.
Prezada Carmem Lúcia,
Obrigado por participar do blog. Fico muito feliz quando o que eu escrevo pode ser útil para outras pessoas. Sucesso!
Boa tarde doutor;
Gosto muito do que escreve em seu blog. E sobre esse tema escolinha, agora estou passando por um momemto difícil, pois minha filha de 2 anos e 10 meses esta com dificuldade de si adaptar na escola. Depois de 2 meses chora bastante pra ir. Eu mesmo que a levo e busco, mas pra ir vai chorando sempre, qdo vou busca- la parece esta sempre bem com uma “carinha” boa. Digo parece porque ela ainda não esta falando quase nada só fala mamãe, papai conta de 1 a 10 quando quer, e fala algumas palavras aleatórias….estou muito preocupada por ela nao falar quase nada e porque depois da escolinha mudou de comportamento as vezes parece mais calma as vezes mais agitada e esta dormindo mal. Fica com sono rolando na cama e nao dorme, ela ainda mama no peito e fica querendo mamar varias vezes, isso esta me cansando muito nao sei o que fazer….será que ela esta angustiada, ansiosa? Queria tanto saber mas como ela nao conversa fica tudo muito difícil.
Obrigada e desculpe o texto grande, to achando, que nao estou fazendo um bom trabalho como mãe acho que a mimo muito e talvez isso esteja atrapalhando o desenvolvimento dela.
Espero que responda por favor
Prezada Ana Lucia,
Questões comportamentais como a que descreve merecem uma conversa mais longa, onde o pediatra pode conhecer melhor a criança, o contexto e a dinâmica da família. Por esse motivo, recomendo que converse com seu pediatra de forma franca. Eventualmente, poderá conversar com um psicólogo para que este lhe oriente. Uma resposta aqui no blog, seria simplista e superficial, portanto, irresponsável. Você certamente está fazendo um bom trabalho como mãe. Mas, talvez tenha que rever algumas atitudes suas (amamentar por exemplo ou o que chamou de mimar muito). Por isso estou lhe recomendando uma conversa com o pediatra ou um psicólogo.
Minha filha frequenta a creche no turno da tarde desde os 8 meses. Percebemos que para ela a socialização já ocorreu sim, com cerca de um ano. Saímos de férias e ela ficou um mês sem ir à escolinha. Quase diariamente falava o nome dos colegas e de uma das auxiliares da professora, de quem ela gosta muito. Caminhando na rua em frente à escola ela se dirigiu ao portão, chamando o nome de coleguinhas. E já tem a amiga preferida! a que ela mais chama e a quem ela se dirige sempre que deixo ela na sala de aula!
Adorei o artigo, acho que os pais fazem para seus filhos aquilo que realmente acham que é o melhor!
infelizmente já vi pais discutindo sobre qual a melhor opção, não aceitando a opinião do outro. Já recebi muitas críticas por levar a minha filha para a creche tão cedo, e sinceramente cheguei a pensar se estava fazendo a opção correta. Com o passar do tempo, vendo que ela vai para a escolinha tranquila e contente, vi que para nós, foi uma boa opção!
Parabéns pelo blog!
Prezada Vanessa,
Obrigado por participar do blog e pelo seu depoimento. Não existem regras quando o tema é educação dos filhos. Existem valores familiares, sociais, eventualmente religiosos. Mas, regras “científicas” do que é certo ou errado, não existem. Se os pais olhassem mais para seus filhos e ouvissem seus sentimentos, ao invés de consultar a internet, forum de pais, livros etc., a vida deles e dos filhos, seria muito mais divertida!
Optamos em deixar nosso filho com babá (uma pessoa de muita confiança que já trabalhava na nossa casa há muitos anos), e fico muito feliz em ter uma pracinha perto de casa, passou a frequentar com 8 meses e agora com 1 ano brinca com os amiguinhos e adora! Pega o sol da manhã…
A idade de ir para a escolinha (o antigo jardim de infância com 3 anos no primeiro período), hoje não sei o novo nome, mas a idade muda tb?
Prezada Daniele,
A idade vai depender de quando você resolver colocar seu filho na escola. Para o antigo Jardim, a escolha será sua, em função da decisão da família e de se sentir confortável com a escolinha. Não há uma idade certa.
Dr Roberto,
Ouvimos muitas afirmações em relação às doenças. Uns dizem que as crianças vão ficar mais fortes, outras dizem que vão pegar doença independente da idade, outras diEm que quanto mais tarde pior…
Estou grávida e com um bebê de 1 ano e 8 meses que sempre ficou comigo em casa. A dúvida Eh colocar ele agora ou esperar o bebê estar mais forte para evitar que pegue as viroses do irmão?
Prezada Leticia,
Sinceramente não acho que a decisão seja, essencialmente, relacionada a viroses e imunidade. É muito mais ligada a como a família está estruturada para dar assistência a um bebê uma criança de 1 ano e 8 meses. Caso a decisão seja de colocar seu filho em creche, consideram faze-lo antes do nascimento, como um sinal de que ele já é “grande”. Colocar depois do nascimento pode confirmar uma fantasia de que ele não é amado e foi excluído da família.
Muito obrigada pela atenção. Acho sua opinião muito sensata. Não havia pensado por este lado.