Tem muito pediatra com mais de 10 anos de formado, que nunca viu um único caso de Sarampo. Isso porque o nosso programa nacional de vacinações é muito bom e atinge a maior parte das crianças do Brasil. Na década de 70, tínhamos, no Brasil, uma epidemia de Sarampo a cada dois anos e estima-se que 2 a 3 milhões de crianças contrairam esta doença. Apesar de ser uma doença típica da infância, não é isenta de riscos. Em torno de 7 a 9% das crianças desenvolvem otite média, 1 a 6% pneumonia e 1 em 1.000 a 2.000 casos, encefalite. Em 1980, morreram 3.336 crianças por sarampo e em 1999 foram registrados os dois últimos óbitos por esta doença, no Brasil. Graças à vacinação, desde 2001 que o Brasil não possui um caso de Sarampo que seja “local”. Todos os casos notificados foram “importados” de outros países.
Por que escrever um post sobre uma doença que, teoricamente acabou no país, a tal ponto que uma geração de mães nunca viu um caso de Sarampo? O motivo é simples e prático. Foram identificados mais de 100 casos de Sarampo “local” em Pernambuco e outros tantos casos em Fortaleza. Portanto, com a grande facilidade de mobilidade, através de viagens de avião e com a proximidade do Carnaval, quando muitas pessoas viajam para o Nordeste, as chances de vermos novos casos de Sarampo passou a ser real. Por isso é importante que todos, de médicos a pais, saibam que poderão ocorrer novos casos de Sarampo.
O Sarampo é uma doença viral aguda, talvez uma das mais transmissíveis. Seus sintomas principais ou “clássicos”são: febre, tosse, coriza, conjuntivite e manchas pelo corpo que os médicos chamam de exantema máculo papular.
É uma doença que se pega de outra pessoa, seja pelo contato direto ou por partículas de saliva de uma pessoa doente, suspensas no ar. Entre o contato com uma pessoa com Sarampo e o aparecimento da doença, se passam entre 8 a 1 2 dias. A pessoa com Sarampo transmite a doença a partir de 4 dias antes do aparecimento das manchas no corpo, até 4 dias após o seu surgimento.
A vacina contra o Sarampo é dada em conjunto com as vacinas contra a Rubéola e a Caxumba (Vacina SCR ou MMR). A primeira dose é dada aos 12 meses de idade e a segunda, entre 4 e 6 anos. A vacina falha em 5% das pessoas que só tomaram uma dose e, por esse motivo, é dada uma segunda dose. A vacina é dada por via sub-cutânea e é muito segura. Seus benefícios podem ser constados pelo fato de que a doença praticamente havia desaparecido em nosso país. O Sarampo não é uma doença “inocente” porque mata crianças, principalmente as desnutridas. Antes do esforço feito pela OMS para erradicar o Sarampo, morriam em torno de 6 milhões de crianças, por ano, por causa desta doença ou de suas consequências. Hoje, no mundo, apesar de uma incrível redução, ainda há um número inaceitável de óbitos infantis, em torno de 150 mil por ano.
Para quem vai viajar para Recife ou Fortaleza no Carnaval, a recomendação é que se vacine todas as crianças acima de 6 meses que não foram vacinadas. Aquelas que já receberam a primeira dose, devem receber a segunda, antecipada, desde que tenham transorridos, ao menos, 28 dias da primeira dose.
Para os bebês menores de 6 meses, que irão viajar para estas localidades, a recomendação é de que a mãe receba uma dose da vacina contra o Sarampo.
A vacina não pode se dada para grávidas e, uma vez vacinada, a mulher deve esperar 28 dias para engravidar.
O tratamento do Sarampo é com remédios para a febre, repouso e os cuidados gerais que se tem com uma virose (não forçar a alimentação e oferecer líquidos, frequentemente). As pessoas que porventura entrarem em contato com um caso suspeito de Sarampo, caso não tenham sido vacinadas, deverão receber uma dose da vacina, até 72h após o contato, a partir de 6 meses de idade.
Não há motivo para pânico ou sair tomando mais vacina do que o recomendado. Não há nenhum benefício em se tomar mais vacinas, “só para garantir”. É importante que todos nós saibamos que podem ocorrer casos de Sarampo, doença que tinha desaparecido. Certamente, com o nosso excelente programa de vacinação e uma vigilância epidemiológica que funciona, vamos conseguir bloquear estes casos e voltar ao patamar anterior, de somente vermos alguns poucos casos importados, por ano.
Caso tenham alguma dúvida ou comentário, enviem suas perguntas, Terei o maior prazer em respondê-las.
10 comentários em “A VOLTA DO SARAMPO?”
Não sou avó, mas mãe de primeira viagem e assim que vi logo reconheci, meu bebe mês passado foi diagnosticado com a exantema viral ou o sarampo, eu nunca havia visto tal doença, cheguei a consultar dois pediatras, ambos muito experientes, fiquei boba, pois também acreditava que era algo extinto, não chegamos ir ao nordeste mas viajamos 3 vezes juntos ate agora, e o meu bebe só tem 7 meses, talvez a 1’dose da vacina não seja segura mesmo.
Interessante o post de hoje Dr.
Prezada Franciele,
Começando pelo final do seu comentário, a vacina contra o Sarampo é muito segura (com relação a algum efeito colateral). O que ocorre é que ela não protege em 5% dos casos e, por esse motivo, se aplica uma segunda dose.
Com relação a seu bebê, ele, de fato, pode ter tido Sarampo, mas, sem ter estado em Pernambuco ou Fortaleza, a probabilidade é menor, ainda que exista. Ele também pode ter tido qualquer uma dessas centenas de viroses exantemáticas, sem nome, que acometem as crianças. Se fosse fundamental saber, seria necessário fazer um exame de sangue para avaliar se ele produziu imunoglobulinas contra o Sarampo.
Olá Dr. Vi o seu post por acaso no facebook e vim parar aqui. Moro em Fortaleza há 6 meses, tenho uma filha de 4 anos que recebeu a primeira dose da vacina, mas a segunda ainda não. Ela está com febre (38), um pouco de coriza e um pouco de tosse, mas sem manchas no corpo. Eu obviamente acabei de ficar super preocupada com o que li aqui. Sempre soube das manchas vermelhas, mas não desses outros sintomas. Temos uma consulta pra ela na terça feira, hj ainda é quinta. Amanhã cedo vou ligar para opediatra, mas gostaria de ouvir uma opinião a mais. Obrigada,
Juliana
Prezada Juliana,
Me parece que vai fazer o que deve ser feito: ligar para o pediatra. Sua filha pode estar com um simples resfriado, mas, como blog não substitui uma consulta, seria irresponsabilidade minha opinar sem examiná-la. Muito provavelmente o pediatra vai lhe recomendar que faça a segunda dose da vacina contra o Sarampo, logo.
Parabéns Doutor pela matéria esclarecedora! Obrigada em nome de todas as mães que assim como eu vivem buscando informações para que possamos resguardar ao máximo a vida das nossas crianças.
Prezada Elizete,
Obrigado por participar do blog e por seus comentários gentis. Me sinto motivado a continuar escrevendo!
Boa tarde dr Roberto Cooper,
Minha filha nasceu de 35 semanas, hoje está com 3 meses e uma semana e tem um aniversário para irmos em Fortaleza- CE. Pergunto ao senhor, como devo agir por causa do surto de sarampo que está ocorrendo nessa cidade, devo evitar de ir para esse aniversário?! Essa doença é fácil de ser transmitida?! Com essa idade a minha filha já pode ser vacinada?!
Prezada Lara,
Com 3 meses, sua filha não pode ser vacinada. A vacina somente pode ser dada a partir dos 6 meses. O Sarampo é uma doença altamente transmissível. Se a presença da sua filha não for indispensável neste aniversário, pensaria em não levá-la. Mas, se for um aniversário “imperdível” como o de uma avó ou bisavó que celebra uma data “redonda”, deve considerar ir. Caso você esteja amamentando ao seio a sua filha, a recomendação é de que você seja vacinada.
Muito obrigada Dr Roberto pelas orientações! Sou sua fã! Um abraço
Minha filha está com.sarampo, estou apavorada com essa doença!!!!