NOVA VACINA PENTAVALENTE

habitos-saudaveis-alimentaresNotícia divulgada na ilha-reino de Utopia revela que uma nova vacina pentavalente foi aprovada para uso em humanos. A vacina protege contra a obesidade, diabetes tipo 2, infarto agudo do miocárdio, acidente vascular cerebral e algumas formas de câncer. Os pesquisadores ainda acreditam que esta vacina possa ter um efeito protetor contra a hipertensão arterial, mas o órgão regulador de vacinas ainda não aprovou sua comercialização como sendo uma vacina hexavalente. O ministro da Saúde de Utopia, Dr. Otimissimus, declarou: “caminhamos rumo a uma vida sem doenças”.

Utopia é o nome de uma ilha-reino, que dá nome a um romance escrito em 1516, por Thomas More. Esta ilha, teria sido inspirada nas descrições feitas por Américo Vespúcio, do que hoje conhecemos por Fernando de Noronha. Utopia foi um neologismo criado pelo autor, significando lugar nenhum. Era uma ilha-reino onde havia igualdade e justiça, portanto só encontrável em lugar nenhum. Somente nesta Utopia, poderíamos ter uma vacina pentavalente como a que descrevi no primeiro parágrafo.

O leitor do blog deve estar confuso, com razão. Afinal de contas, existe essa tal vacina? Se não existe, por quê essa história toda sobre Utopia? Onde esse pediatra quer chegar?

Respondo, por partes. A vacina não existe, como vacina. Mas, se existisse, você a daria a seu filho? Não tenho a menor dúvida de que a resposta será sim. Quem não gostaria de proteger seu filho contra essas cinco ou seis doenças, tão frequentes? Mas, se não existe a vacina, existe o equivalente a uma vacina que pode proteger os nossos filhos destas doenças. O equivalente à vacina são bons hábitos de vida: alimentação, atividades física, sono regular, vida afetiva e um tempo para ficar quieto, pensando em nada. Simples, barato e eficiente. Por quê então não vemos mais gente aderindo e ensinando aos filhos uma forma de viver com prazer e que os proteja de doenças muito comuns e frequentes? Por que somente em um lugar idealizado, como Utopia, as pessoas se comportariam de forma a obter vantagens no longo prazo, ao invés de facilidades no curto prazo. Isso responde à segunda pergunta de porque usei Utopia para começar o post.

Onde eu quero chegar com esse post? Gostaria de propor que pensássemos em porque não hesitaríamos em dar a tal nova vacina pentavalente e não aderimos, nem ensinamos aos nossos filhos, hábitos saudáveis de vida. A seguir, algumas ideias que eu tenho a respeito e que poderiam explicar nosso comportamento.

1- Vacinas representam bem a nossa cultura de hoje. Uma aplicação rápida, eficiência comprovada, um custo aceitável (seja pagando via impostos, seja na clínica privada)  e, o mais importante- assunto resolvido! Em uma cultura do rápido, eficiente e ticar checklists, nada como uma vacina.

2- Vacinas encarnam o mito do moderno, fruto da pesquisa científica e tudo que é moderno e científico é o melhor que se pode oferecer.

3- Vacinas  são práticas, exigindo pouco ou nenhum envolvimento dos pais. Qualquer pessoa pode levar a criança para ser vacinada. Os pais se sentem cumpridores de um cuidado, sem ter que se dedicar muito tempo a ele.

4- Nenhuma criança gosta de tomar vacina, mas, o tempo que os pais precisam usar sua autoridade e impor que a vacina será dada, não passa de 3 a 5 minutos, no máximo.

Hábitos de vida saudável são o oposto desses atributos que descrevi para as vacinas. Exigem um reforço (para ficar na linguagem das vacinas), diário. Portanto, é uma atitude trabalhosa, árdua, contínua. O assunto nunca está completamente resolvido e não pode ser ticado da checklist. Ou melhor, é ticado todos os dias e, no dia seguinte, está na lista de pendências, novamente. Nada mais frustrante para quem, como nós, vive em uma cultura de eficácia gerencial, extrapolada para a vida. Algo que precisa ser cuidado todos os dias, denuncia alguma incapacidade de resolver, de uma vez, o “problema”. Mas, hábitos de vida não são um problema a ser resolvido, mas, uma solução!

Hábitos saudáveis de vida não apresentam o glamour da modernidade, nem o mito do conhecimento científico como sendo a única forma de saber.  O antigo é confundido com o ultrapassado.  Nem tudo que é do passado, deve ser considerado ultrapassado. Mas, francamente, não pensamos assim. Veja o exemplo da alimentação. Quanto mais se estuda, mais damos razão ao conhecimento dos nossos avós que diziam que um prato saudável era um prato colorido. Mas, ao nosso redor, o que mais se vê são modismos e “modernidades” alimentares.

Hábitos saudáveis exigem um envolvimento enorme dos pais. Exigem uma realocação do que seria o meu tempo, para o nosso tempo. Nosso sendo o tempo com a família, os filhos. Exigem que os pais também modifiquem comportamentos para serem exemplo e aí reside uma das maiores barreiras para que nosso filhos possam aderir a um estilo de vida que funcione como  uma vacina contra as doenças citadas. Hábitos saudáveis dão mais trabalho porque a alimentação industrializada, de fácil acesso e preparo, nem sempre é a mais adequada ou melhor. A lei da gravidade é infinitamente mais forte no sofá em frente à televisão, nos prendendo lá ao invés de uma vida ao ar livre, com atividade física.  E, finalmente, exige que os pais se valham da sua autoridade de forma mais contínua e não só por alguns minutos. Limites bem colocados são fundamentais para que a “vacina” funcione. Não só é importante seIsola_di_Utopia_Moro estimular o que deve ser feito, como traçar limites claros e rígidos com relação ao que não deve.

Dito desta forma, parece uma tarefa impossível, utópica. Mas, não ensinamos nossos filhos a escovarem os dentes,
todos os dias? Não os educamos para usarem cinto de segurança, quando andam de carro? Aos poucos, não vamos criando o hábito do uso diário do protetor solar? Temos exemplos de bons hábitos que conseguiram ser introduzidos na nossa vida rotineira. Nem nos damos conta de que se tratam de ações de prevenção.

Cabe a você leitor decidir se vai “vacinar” ou não seu filho com a nova pentavalente. Como não estamos em Utopia, ela, por aqui, se chama de bons hábitos de vida. Quem ensinar seus filhos a adota-los, vai lhes dar  não só mais anos de vida, como mais vida nesses anos.

8 comentários em “NOVA VACINA PENTAVALENTE”

  1. Bem, nessa eu fui pega. Ja tava querendo saber o preço de tal vacina.:(.
    Mas é isso mesmo, na falta da vacina voltamos ao bons e velhos habitos( Fiquei decepcionada aqui rs…)

  2. Raniele Celestrino

    Também fui pega, rsrs . Refletindo um pouco sobre o texto, realmente vivemos no mundo pensando somente no “hoje”, e não nos preocupamos com o “amanhã” onde veremos as consequências de nossas escolhas. Contudo sempre haverá uma oportunidade de reorganizar os pensamentos e adotar um habito de vida saudável.

    1. Dr. Roberto Cooper

      Raniele,
      A ideia era exatamente brincar com dois conceitos de prevenção. A vacina, totalmente em linha com nossa cultura do imediato, agora, rápido e os hábitos saudáveis que exigem algo que estamos perdendo que é a visão de longo prazo, de tempo estendido, de continuidade, sequência. Sucesso!

  3. Meu pensamento ao ler o tílulo:”depois da Meningo B meu bolso não aguenta outra vacina não!” rsrs….Desde que tive meu bebê(hoje tem 5 meses) simplesmente parei de comprar chocolate e outras porcarias.Se não quero que ele tenha o hábito de comer essas coisas em casa então eu também não posso comer. Simples assim.

    1. Dr. Roberto Cooper

      Patricia,
      É simples assim e não é tão cara quanto a vacina Meningo B. Mas, exige uma reeducação em hábitos e comportamentos. Algo simples de entendermos, mas, eventualmente difícil de implementarmos. Mas, vale a pena. Sucesso!

  4. Dr. Roberto,
    Gostaria de tirar uma dúvida sobre como proceder a respeito do estado de saúde do meu filho, não é pertinente ao assunto, mas não encontrei outra maneira de fazer contato.
    Ele tem 1 ano e 4 meses, dia 11/08 iniciou na escolinha, e dia 19/08 começou a ficar rouco, com tosse e assim permaneceu. No dia 20/08 o levei ao pronto atendimento, e a médica de plantão diagnosticou Laringite, e passou Decadron, e inalação de Afrin, 3 gotas diluídas em 5 ml de soro, por 5 dias. Como não apresentou melhora, o levei ao seu pediatra, e ele mandou parar o Afrin e dar Aerolin Nebules, Esalerg, (pq eu já tinha em casa, mas na verdade ele iria passar Allegra), e Ceclor. Apesar de tudo isso, ele continuava tendo febre, então voltei ao P.A. onde a médica fez radiografia do pulmão além dos examinar olhando nariz, garganta e ouvido, e disse que não havia nada de errado, e trocou o Esalerg pelo Allegra. No horário do antibiótico, dei também o Allegra e a Inalação, e daí ele começou aparentemente a passar mal, coração disparado, e com o corpo todo cheio de manchas vermelhas! Eu achei que tinha sido reação por conta de dar os medicamentos todos juntos, e resolvi espaçar os horários. Mantive o horário do antibiótico e dei o Allegra 3 horas depois, imediatamente após tomar, ele começou a passar muito mal, com tremedeira, palidez, as extremidades das mão arroxeadas, vermelhidão pelo corpo e temperatura subindo bemm rápido, corri para o hospital e qdo la cheguei ele esta com 40º de febre. Foi direto pro banho, e qdo a temperatura baixou, passou pela plantonista, que tirou o Allegra, pediu para voltar p/ o Esalerg, e aguardar até 72ª hora após ter iniciado o antibiótico, para avaliar se ainda terá febre, e após esse período, caso tenha voltar ao P.A.
    Enfim. Quero uma opinião profissional a respeito. Será outro doença mascarada? Devo procurar outro pediatra? Estou desesperada.
    Obrigada.

    1. Dr. Roberto Cooper

      Prezada Julihana,
      Como o blog não substitui uma consulta, seria irresponsabilidade minha opinar sobre o seu filho. O que eu posso sugerir é que procure o seu pediatra de confiança para que este coordene o cuidado do seu filho. Ficar indo ao hospital e ser atendido por médicos diferentes ou até mesmos buscar respostas na internet, tendem a confundir mais do que ajudar. O pediatra que acompanha, vê a evolução, avalia a resposta aos medicamentos, é o que seu filho precisa. Algumas situações clínicas não têm uma solução imediata e só este acompanhamento, pelo mesmo médico, do quadro, permite chegar a um diagnóstico.

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