BULLYING

Quando você leu a palavra bullying, em que pensou? Muito provavelmente em uma criança sendo incomodada por outra, na presença de vários coleguinhas. Esse incomodar poderia ser verbal, através de xingamentos, apelidos que menosprezem ou desrespeitem a criança ou poderia chegar até à violência física. Se você andou lendo sobre bullying (quem não andou?), pode ter pensado também em formas eletrônicas de chatear uma criança, o cyberbullying. Talvez tenha pensado algumas outras coisas, mas suponho que seriam uma variação de uma cena que envolve uma criança que é a vítima,o bully (o chateador proativo) e crianças que passivamente assistem à cena, quer incentivando-a, quer ficando quietos ou calados. Estes últimos, os quietos e calados, muitas vezes permanecem assim por medo de se tornarem vítimas do bully. Mas, será que pensou em algo muito diferente disso?

A pergunta é: como alguém se torna um bully? Será que é algo genético e a criança nasce com um gen para a perversidade? Ou será que é um comportamento aprendido? Se for um comportamento aprendido, onde uma criança poderia aprender a ser um bully? Ora, o lugar mais provável onde crianças pequenas aprendem comportamentos é na sua própria casa. Mas, em que casa acontece bullying? Eu diria que em nenhuma acontece bullying. Pelo menos, não com esse  nome.

Vamos trocar a palavra bullying por abuso. Será que vocês sentem o mesmo desconforto que eu, só de usar uma palavra em português?  Bullying é uma palavra que muito recentemente entrou no nosso vocabulário. Exprime uma ideia de algo que sabemos que pode acontecer, mas que está a uma certa distância de nós. Abuso, abusar, abusado, são palavras muito mais antigas para nós. Exprimem com mais crueza uma ação indesejável, mas que ocorre. Pior, ocorre sutilmente e é esse abuso sutil que pode ser uma das formas que nós adultos temos para “ensinar” bullying para as crianças.

Quando expressamos opiniões de forma violenta, desrespeitosa ou preconceituosa, estamos dando carta branca para que nossos filhos façam o mesmo com seus coleguinhas. Se os pais discutem na frente dos filhos e, com ânimos exaltados, perdem o controle verbal ou até físico, estamos dizendo que isso é aceitável e que podem fazer o mesmo com outras crianças. Se humilhamos nossos filhos com expressões como: como você é burro ou, desse jeito não vai dar para nada na vida, estamos abusando de nossos próprios filhos! Ou, se no extremo oposto, permitimos tudo, não colocando limites necessários, estaremos estimulando comportamentos trangressores, abusadores.  Se o tratamento que dispensamos a funcionários ou empregados é prepotente e agressivo, como esperar que as crianças não nos imitem nas suas relações. O abuso pode se manifestar como uma intolerância com a diversidade.  Se formos intolerantes com  religiões diferentes da nossa, com a cor da pele de uma pessoa, com a mulher em uma postura machista, com pessoas que fazem escolhas sexuais diferentes daquelas que aprovamos ou com quem pretence a uma classe social que não aquela a que fazemos parte, como esperar que nossos filhos não carreguem, para a vida, o potencial de serem abusadores?

Como todos nós, em princípio, desejamos que nosso filhos sejam felizes, vivendo em harmonia com outras pessoas, devemos ter um cuidado enorme com os exemplos que damos no nosso dia a dia. Nossas ações são muito mais poderosas do que qualquer tipo de discurso que possamos ter. Crianças aprendem, muito rapidamente, a captar nossos atos,  mais do que ouvindo nossas palavras. Fiquemos atento aos nossos pequenos “abusos” diários. Estes podem ser responsáveis por um futuro bully.

Do mesmo modo que filhos podem nos incentivar a ficar em foma física, podem nos fazer refletir sobre nossos comportamentos. Uma das belezas da maternidade e paternidade é que temos a oportunidade de ensinarmos um mundo de coisas para nossos filhos. Em contrapartida, para quem for bom entendedor, nossos filhos nos ensinam, também, um outro mundo de coisas.

Como sempre, gosto dos comentários que fazem. Gostaria muito de saber o que pensam sobre bullying/abuso e o que podemos fazer para diminuir esse comportamento. Compartilhem suas ideias.

5 comentários em “BULLYING”

  1. Daniela Abrantes

    Excelente reflexão! Também acredito muito na responsabilidade dos pais na formação do caráter dos filhos – e isso passa muito mais pelo exemplo do que pelas palavras. Talvez esteja aí a motivação para nos tornarmos pessoas melhores: que filhos queremos deixar para o mundo?

    1. Dr. Roberto Cooper

      Daniela,
      Obrigado por seu comentário, reforçando a importância do exemplo. Existe um ditado popular que é, no meu entender, uma aberração. Faça o que eu digo, não faça o que eu faço! Fazemos muito mais o que vimos os outros fazerem do que dizerem! Um exemplo simplório é a limpeza do metrô do Rio de Janeiro. Ninguém joga papel no chão, o chão fica limpo. Na rua, as mesmas pessoas, ao verem alguém jogar ou constatar que tem papel no chão, jogam! O exemplo é poderoso. Concordo com você que filhos são motivantes em vários aspectos. Aproveitemos!

  2. Ola Dr. Cooper,
    Sua reflexão de bullying e de exemplos transmitidos pelos pais me fez pensar na importância do diálogo e da informação.
    Muitos pais acham que porque o filho é pequeno ele não deva participar ou saber de algo que esteja acontecendo. No meu ponto de vista, um grande erro !
    Esta semana estava conversando, uma mãe veio me perguntar como eu havia conseguido fazer a minha filha gostar tanto da casa nova dela…num primeiro instante eu não soube lhe responder, mas depois parei e pensei:”nossa, ela participou de cada detalhe, cada escolha, cada conversa, cada visita a casa nova…ela simplesmente viveu a “construção” da casa junto conosco, porque diabos ela não gostaria da casa ??? SIm, muitas vezes ela ficava irritada de ter que ir a obra, a maioria das vezes ela nem dava bola para o que estávamos falando, algumas ela participava e escolhia, e várias outras era ouvinte passiva… que bom que insistimos, porque no final, DEU CERTO !!!
    Tão simples como te-la feito participar e conversar e mostrar e dar a mão e leva-la ao novo ambiente…DIÁLOGO, TROCA DE INFORMAÇÃO.
    Acredito muito no seu simples ditado Dr. Cooper e creio que o comportamento agressivo das crianças sejam em função do meio, porque a minha filha seria agressiva se nós pais não somos e se o pequeno “mundo” que a cerca não é ???
    Milhões de casos e exemplos…
    Enfim, parabéns pelo post incentivando nós, pais, a refletir sobre nosso comportamento com nossos filhos e na frente dos nossos filhos.

    Bia

    1. Dr. Roberto Cooper

      Bia,
      Obrigado por seu depoimento. De fato, incluir os filhos, fazê-los participar da vida da família, é uma das maneiras de se oferecer carinho e segurança. A criança se sente parte, incluída. Pouco importa que seja pequena e seu interesse seja muito pequeno, como no caso da obra da sua casa. Mas, o resultado final é bom, como você descreveu.
      Acredito que nós pais devamos pensar um pouco mais no nosso comportamento rotineiro, do dia a dia. É nesse comportamento que damos mensagens muito fortes. Se estacionamos em fila dupla, jogamos papel no chão, emitimos comentários desrespeitosos com relação a terceiros, gritamos etc. tudo que estamos fazendo é autorizar nossos filhos a serem abusadores também.
      Parabéns pelo modo com que cuida e educa a sua filha.

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