Um pediatra falar sobre mamadeiras é um assunto proibido. Aliás, não só o pediatra, qualquer pessoa falar sobre mamadeira virou um tabu. Claro que se fala, mas é desses assuntos que mães trocam segredos sobre marcas, tipos, bicos, como se fosse algo ilegal. Resolvi falar um pouco mais abertamente sobre esse tema com o único intuito de desmitificar um pouco o assunto.
Para começar, gostaria de deixar bem clara minha posição inteiramente favorável à amamentação. Não há dúvida alguma sobre todas as qualidades nutricionais, afetivas, psicológicas que o amamentar traz para a criança (e para a mãe). Mas, daí a se criar uma clima de constrangimento sobre as mães que, pelos mais diversos motivos, usam mamadeiras para alimentar seus bebês, vai uma grande diferença. Vivemos um clima onde a Patrulha do Peito parece vigiar todas as mães e quando identifica uma que está usando mamadeira, desfia os argumentos pró peito, de uma forma muitas vezes opressiva. Parece que a mãe que ofereceu mamadeira está cometendo um crime! O que a Patrulha do Peito acaba conseguindo é gerar um sentimento de insegurança e culpa em uma mãe que pode ser tão carinhosa e amorosa quanto uma que amamente no peito.
Vamos a alguns fatos:
- O leite materno é o mais adequado para o bebê. Sem dúvida que sim. Não é preciso se falar nos aspectos dos constituintes do leite materno. Basta pensar que, para humanos, nada melhor do que leite humano. Simples assim. No entanto, pelos mais variados motivos, nem todas as mães conseguem ou podem amamentar seus filhos. Felizmente, hoje, existem fórmulas infantis (leites específicos para lactentes) que são de excepcional qualidade e garantem uma boa nutrição aos bebês.
- Amamentar cria um vínculo forte entre mãe e bebê. De fato, o contato físico íntimo é excelente para a criação de vínculos afetivos e a amamentação permite esse contato. Mas, o amor não está no leite que sai do peito e sim no toque, no olhar, no modo de segurar seu filho. Dar uma mamadeira pode ser um momento de grande initmidade e carinho, ainda que a boca do bebê não esteja no seio da mãe.
Devemos incentivar ao máximo a amamentação, mas nunca penalizar as mães que não conseguem ou não podem, com culpa e insegurança. Uma mãe de primeira viagem pode estar tensa nos primeiros dias e achar não vai conseguir amamentar. Cabe ao pai, familiares e pediatra, criar condições de tranquilidade e estímulo para que a mãe e o bebê encontrem o caminho da amamentação. Não se deve oferecer uma mamadeira na primeira dificuldade. Mas, algumas mães e bebês, por mais que se esforçem, e sem motivo objetivo, não conseguem chegar a um “acordo” satisfatório com relação à amamentação. Outra mães têm restrições de saúde que as impede amamentar. Para estas mães, a mamadeira é a solução. Deve ser vista como algo positivo porque vai permitir que o bebê se alimente adequadamente e continue recebendo o carinho e amor da mãe. Não há nada de errado em se dar mamadeira nestas circunstâncias. As mães que dão mamadeira não devem ser ” patrulhadas” e sim acolhidas. Introduzir a mamadeira já pode ter sido um momento difícil. Não precisam de nenhum tipo de juízo de valor dos seus atos. Precisam sim de acolhimento para que possam desfrutar plenamente das alegrias da maternidade. Não é pelo tipo de leite que é ofertado aos filhos que se avalia uma mãe! Mãe é bem mais do que um peito com leite.
Agora, é só esperar a reação da Patrulha do Peito! Um pediatra escrever sobre mamadeira é uma heresia. Fosse na idade média, eu corria o risco de ser queimado em praça pública! Mas, insisto, ninguém é contra o aleitamento natural. Mas, quando este não for possível, não é crime, nem pecado, usar a mamadeira com fórmulas (leites) adequadas.
Como sempre, gostaria de receber seus comentários. Inclusive os críticos, se houver.