DOUTOR GOOGLE

Seu filho de  6 anos está com febre alta há 4 dias, sem vontade de comer e hoje apareceram umas pintinhas no corpo dele. Você resolve levá-lo ao pediatra e este  examina seu filho, pede para ele abrir a boca e, com um sorriso nos lábios e um tom exultante diz: escarlatina! Seu mundo despenca, mas você, brava mãe, segura a onda e simplesmente olha para o médico, sem dizer nada. Ele percebe dois enormes pontos de interrogação no lugar dos seus olhos e considera importante lhe dizer: fica tranquila, não é nada de mais. Vai tomar antibiótico dez dias e acabou! Você sente um alívio- tem cura! Ao mesmo tempo, a palavra antibiótico lhe assusta. Doutor, precisa mesmo do antibiótico? Ah! Se não tomar, tem uma chance, pequena é verdade, de ter uma doença no coração daqui a alguns anos. Até logo e qualquer coisa, me telefona.

Ainda zonza, chega em casa e, imediatamente, vai para o computador consultar o Dr. Google. Digita escarlatina e aparecem centenas de referências. Abre a primeira e lá está escrito- doença infectocontagiosa aguda provocada pela bactéria Estreptococo Beta Hemolítico do Grupo A. Pronto, agora o que eu pesquiso? Beta Hemolítico parece grave!

Evidentemente que esse cenário de ficção é exagerado. Mas, muito provavelmente, o Doutor Google é consultado, várias vezes, com o objetivo de se obter informações sobre alguma doença. O Doutor Google é muito bom, para quem souber usá-lo. É preciso aprender a criar “filtros” para selecionar as informações confiáveis e preservar a saúde mental. A seguir, algumas dicas, de como criar esses filtros. Não sou um especialista em tecnologia da informação e, quem sabe, o Pedro Doria, colunista especializado do O Globo, nos brinda com uma coluna a esse respeito.

Sugiro que usem um ranking de credibilidade, desenvolvido antes de consultarem a internet. Para assuntos médicos, sugiro o seguinte ranking, começando do menos confiável até o mais confiável:

  1. perguntas avulsas lançadas na internet. Por exemplo- alguém sabe como se trata escarlatina? Qualquer pessoa pode responder qualquer coisa. As pessoas contarão casos, histórias, darão exemplos, mas a credibilidade é nula.
  2. blogs. Um pouco melhor do que respostas avulsas, um blog é escrito por uma pessoa que não tem, obrigatoriamente, compromisso com a qualidade da informação veiculada. Mas, o autor do blog é conhecido e suas credenciais podem contribuir para dar credibilidade ao conteúdo.
  3. portais de notícias. O problema com portais de notícias é que, nem sempre, os jornalistas que comentam sobre saúde possuem experiência nessa área e não conseguem avaliar o que seja efetivamente uma informação válida de uma notícia sem fundamento consistente.
  4. wikipedia. Em geral os artigos da wikipedia são bem escritos. É importante lembrar que a Wikipedia é uma enciclopédia aberta onde qualquer um pode editar um verbete. A Wikipedia não possui um corpo editorial próprio que assuma a responsabilidade pelo conteúdo publicado.
  5. publicações científicas. O público que não é da área da saúde não terá conhecimento para saber quais são as publicações confiáveis.  As boas publicações, em geral, exigem assinatura para serem acessadas. Muitas vezes apenas o sumário é publicado com livre acesso.
  6. sites institucionais. Estes devem constituir a fonte mais confiável para o público em geral. O que é veiculado nos sites institucionais é de responsabilidade da instituição ou organismo. Alguns exemplos de sites institucionais: Organização Mundial da Saúde, Ministerio da Saúde, Sociedade Brasileira de Pediatra, National Institute of Health, Center for Disease Control (CDC), American Academy of Pediatrics, entre outros.

A internet pode ser uma excelente fonte de consultas e informação, desde que saibamos filtrar o que é sério do que é leviano. Recomendo que comentem com seu pediatra o que leram na internet, inclusive pedindo dicas de sites que ele recomende.

Hoje  resolvi não escrever diretamente sobre algum aspecto da saúde das crianças. Minha intenção, ao escrever este blog, é a de divulgar informações e notícias que ajudem os pais a compreender o que se passa com seus filhos. Nesse sentido, comentar sobre uma grande fonte de informação, a internet, me pareceu oportuno. Como sempre, vou gostar de receber as suas críticas e sugestões.

15 comentários em “DOUTOR GOOGLE”

  1. Ola Dr. Cooper,

    Concordo com muito do que disse, principalmente sobre filtrar informacoes porque no Google TEM DE TUDO. Alem disso o GOOGLE é uma fonte rápida de informação e de acesso ilimitado, qualquer um pode acessar e a qualquer tempo.
    O que ocorre com os top sites que indicou é que a linguagem dificulta o entendimento, por isso procurarmos por outras fontes.
    Sou BEST FRIEND do GOOGLE e de carteirinha posso dizer que as noticias relacionadas que saem sobre algum tema, em geral são superficiais e não tiram dúvidas e nem arescentam, pelo contrário, um monte de palavras que no final não dizem nada, TRISTE ! Aí a gente parte para as notícias internacionais que são mais ricas em conteúdo…Mas muitas mães nao leem em outra lingua..
    O que acho interessante do blog é que é um texto muito pessoal, “alguém” escreve para divulgar algum tipo de informação, em geral, um tema vivido ou de conhecimento próprio. Além disso no blog você troca informação com quem está escrevendo, que é exatamente o que estamos fazendo. É um mundo mais real´, mas que deve sim ser filtrado.

    Bjs

    Bia

    1. Dr. Roberto Cooper

      Bia,
      No post, não quis me alongar (fica chato ou pedante), falando sobre a importância da desconfiança produtiva. Não é ser “do contra” gratuitamente. É ter uma postura que sempre se pergunta- será que isto é verdade? está baseado em alguma evidência? informa as fontes? etc. Uma boa abordagem é lembrar sempre de que fatos extraordinários exigem provas extraordinárias! Boas pesquisas no Google!

  2. boa tarde doutor eu sou lactante, por causa da gravidez fiquei um pouco gordinha . estou pensando em tomar um medicamento pelo nome:Midway Labs, ele tem o efeito de eliminar as gorduras localizada, porém por eu ser lactante estou com medo de está passando alguma coisa para o leite

    1. Dr. Roberto Cooper

      Luciene,
      Não conheço este medicamento. Me parece ser um suplemento importado. Chamo a sua atenção para o fato de que suplementos, nos EUA, não passam pelo crivo do FDA que é a agência que fiscaliza medicamentos. Assim, existem vários relatos de produtos para emagrecimento que possuem ingredientes não declarados na sua fórmula. Esse seria um motivo para não recomendar que tome esse ou qualquer outro suplemento. O outro motivo é que, infelizmente, nenhum produto tem o efeito de eliminar gorduras localizadas. Seria ótimo se tal produto existisse! O que eu recomendo é que faça uma reeducação alimentar, sob orientação de nutricionista e mantenha uma rotina de exercícios físicos que inclua musculação e aeróbico. Não só vai perder as gorduras localizadas, como estará ganhando mais saúde.

  3. beatriz farah

    Ola Dr. Cooper,

    Hoje amanheci com algumas duvidas, você tentar me ajudar ?

    Vamos lá, tópicos bem diferentes:

    1- Memória: Quando a criança começa de fato a ter memória, não recente, dos acontecimentos ? Ontem a noite a Manuela lembrou de um episódio do Natal de 2011, ela tinha 1 ano e 6m.
    Ano passado minha cunhada ficou muito doente e o que mais a entristecia era o fato dela pensar que a filha, as 4 anos, poderia com o tempo de se esquecer dela… Enfim…existe alguma pesquisa/dado que fale sobre a memória da criança ?

    2- Calorias: Quantas calorias uma criança deve comer ( por faixas etárias modifica ? ) ? Fizemos diversas restrições alimentares para a Manuela a 3 meses. Tiramos doces, massas e farinhas, tubérculos. Nem por isso ela perder peso. Como eu também parei de comer para que ela não sentisse vontade, notei que eu emagreci mas não notei o mesmo nela então fomos nos pesar ( sei que soa absurdo mas ontem nos pesamos ! ). Será que ela anda comendo os “saudáveis” ?

    3- Secreções femininas: Ainda ontem ( dia cheio de porquês né ! ) reparei que a calcinha dela estava suja, parecia um corrimento ( ou era mesmo ?). Troquei a calcinha e no final da noite percebi que tinha algo novamente ( infelizmente troquei por uma calcinha colorida entao nao deu para ver com detalhes como a calcinha da escola que era branca). Observo mais um pouco para ter alguma info mais detalhada ?

    Bjs

    Bia

    1. Dr. Roberto Cooper

      Bia,
      Memória- assunto controvertido, mesmo porque dependemos do relato das pessoas. Exisem estudos que mostram a possibilidade de criação de “memórias falsas”. Um, clássico, perguntou a um grupo de pessoas se a vacina x, dada no jardim de infância tinha doído. Um grande número respondeu que sim. Ocorre que essa tal vacina, nunca tnha sido aplicada. Além de controvertido, memória é um assunto complexo. Parece que a idéia de um filme que guardamos em algum lugar não é correta. Aparentemente o tal “filme”, já é guardado com subjetividade e percepções selecionadas. Dito isso, acho que a sua cunhada poderia se sentir melhor com a ideia ou conceito de memória afetiva. Mais do que “filmes” lembrados, as emoções e sentimentos ficam registradas de forma muito mais profunda. A expressão de cuidar, carinho e amor da sua cunhada fazem e farão parte da vida da filha dela, independentemente dela “lembrar” ou não. Para o registro do “filme”, hoje se pode ter fotos, vídeos etc. sem grandes sofisticações tecnológicas que permanecerão para olhadas futuras.
      Calorias- Manuela não precisa emagrecer! Não existe dieta de emagrecimento na idade dela. Ela está crescendo e, caso o peso dela estivesse preocupando, vocês deveriam fazer o que já fizeram. Oferecer a ela uma alimentação saudável, cuidando para evitar “bobagens” sem valor nutricional, com alto valor calórico. Prefiro não lhes dar uma tabela de calorias porque não acho razoável que comecem a contar as calorias dela. Continuem oferecendo comida saudável, incluindo carboidratos complexos (grãos, cereais integrais), gordura (vegetal de preferência, como azeite), legumes, verduras, frutas e proteínas (carne, frango ou peixe).
      Secreções- sim, foi um corrimento. Não raro em meninas, sem gravidade alguma. Na imensa maioria das vezes, uma questão de higiene. Fazer xixi e se limpar não é o que as meninas fazem. Ainda dependem de um adulto para fazer ou lembrar que precisa ser feito. Basta reforçar a higiene, usar calcinhas brancas de algodão (fica mais fácil para ver e, algumas vezes, o tecido sintético produz uma reação do organismo). Se persistir, fale com seu pediatra.

      1. Beatriz farah

        Ola Dr. Cooper,

        Nossa, nem pensei em fazer regime na Manuela, pelo contrário, o comentário foi porque eu acho que acabei super alimentando ela com a ausência de tudo o que foi privado. A idéia da pergunta não é de regime mas para não comer demais.
        Sim, existe um limite…esse limite é a minha sensatez ! Isso ?
        Regime só para nós :), pode deixar !!!
        Quanto as secreções, elas sumiram, que bom. Mas estou atenta. Como ela não usa mais fraldas, e faz muito xixi na escola, de repente pode ser que a limpeza de lá não seja a limpeza da mamãe…
        Agora as calcinhas….puxa….neste país não vendem calcinhas brancas para crianças pequenas Dr. Cooper, terei que importar !!! Socorro país mais capitalista e consumista que tudo deles é um personagem né ?
        VIVA A HERING !!! Vamos estocar quando estivermos ai.

        Obrigado.

        Bjs

        Bia

  4. Olá Dr. Cooper,

    Adorei a matéria sobre o DOUTOR GOOGLE, me descreveu direitinho…rsrsrs. Mas acredito que devamos lançar mão (e porque não?) dos recursos tecnológicos que temos disponíveis atualmente, claro que com bom senso e sabedoria, utilizando “filtros” por exemplo, como foi citado.

    A propósito Dr., estou desenvolvendo o meu Trabalho de Conclusão de Curso de graduação em Tecnologia da Informação e, ficaria muito lisonjeada se expressasse a sua opinião, ou se tivesse algum artigo para me indicar sobre o tema…..trata-se da questão do “USO DE DISPOSITIVOS TECNOLÓGICOS POR CRIANÇAS (3 à 6 anos): QUAIS OS MALEFÍCIOS E OS BENEFÍCIOS?”.

    Grata,

    Roberta dos Reis

    1. Dr. Roberto Cooper

      Roberta,
      De fato, tecnologia é para ser usada. A questão é que, com a circulação de informações sem “referências”, fica difícil filtrar o que é digno de confiança do que não é. Como você sabe, muitos textos pretensamente assinados por pessoas conhecidas, são fraudes! Portanto, é importante selecionar bem as fontes.
      Quanto ao tema do seu trabalho de conclusão de curso de graduação, não tenho nenhum artigo em mãos. No entanto, muita coisa tem sido publicada, diante da importância e atualidade do tema. As publicações que passaram por mim eram em inglês. Se eu encontrar alguma referência interessante, repasso.

  5. Exatamente Dr. Cooper, concordo com a importância de selecionar as fontes de onde extraímos informações (dizemos principalmente das tecnológicas no momento), até por que hoje em dia existe de tudo na internet.
    Mas acredito que com as tecnologias mais difundidas e acessíveis, a população tende à aprender a lidar com tanta informação e a filtrar o que merece credibilidade ou não. Mesmo porque, a era digital é relativamente recente, e provavelmente as próximas gerações conseguirão assimilar melhor tudo isto que para muitos ainda hoje é novidade.

    Agradeço a atenção Dr. quanto ao TCC! Se tiver algo que puder me enviar, mesmo que seja em inglês, será de grande valia!!!

    Um grade abraço,

    Roberta dos Reis

    1. Dr. Roberto Cooper

      Roberta,
      Gostaria de ter seu otimismo com relação à capacidade das pessoas aprenderem a separar o que é informação de qualidade de simples rumor ou mito. Muitas pessoas querem ouvir a fábula, a solução mágica e retro alimentarão essas fontes. O combate ao obscurantismo deve ser feito não só nas tecnologias do momento, como em todas as midias possíveis. A divulgação do método científico, como uma ferramenta poderosa na aquisição de novos conhecimentos, deve ser algo permanente. Mesmo assim, acredito que o ser humano gosta de uma boa história que lhe ofereça uma ilusão para uma realidade que considera dura demais. O tempo dirá!

  6. ola ,Dr boa tarde. minha mestruaçõ estar atrsada a 3 meses,mais tive um pequeno sangramento ,que não era mestruaçaõ e durou 1 dia, fiz o exame Beta hcg e deu negativo, mais eu sinto enjous, muita dor de cabeça, seios enchado e doloridos e muita colica. sera que posso estar gravida?

    1. Dr. Roberto Cooper

      Prezada Cintia,
      Independentemente de estar ou não grávida, você precisa se consultar com um ginecologista para saber o que está acontecendo. Recomendo que não espere mais e marque uma consulta com o ginecologista ou com o médico de família, no posto de saúde.

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